A alheira é um enchido típico da culinária portuguesa cujos principais ingredientes são normalmente carne de aves, pão, azeite, banha, alho e colorau, sendo pelo pão, o nosso interesse na pesquisa.
Segundo a tradição, este enchido terá sido criado por cristãos novos que, em segredo, continuavam a guardar costumes da sua renegada religião judaica, a fim de dar a entender a toda a sociedade que eram cristãos assumidos e bem integrados.
Como o judaísmo proíbe o consumo da carne de porco, alguns dos supostamente recém convertidos teriam inventado um chouriço onde discretamente a carne de ave substituía a carne de porco, tradicional entre os cristãos. Desta forma, nas primeiras alheiras foram usadas várias carnes alternativas ao porco, tais como peru, galinha e outras aves.
Apesar de existir uma noção geral de que, efectivamente, as alheiras nasceram das comunidades judaicas que se instalaram em Trás-os-Montes, não há provas cabais sobre a questão, e o ponto mais difundido a favor da teoria – a ausência de carne de porco – peca por escasso e por imprecisão evidente. As dúvidas e as teorias contrárias continuam, por isso, a reproduzir-se.
No livro "Reminiscências Cripto-judaicas nas Alheiras Transmontanas", Mouette Barboff faz essa análise resultado de uma longa pesquisa no terreno, junto das populações transmontanas, um trabalho etnográfico de observação próxima, de recolha de testemunhos e de fotografia.
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| Mouette Barboff |
Desde a matança do porco ao consumo das alheiras, Mouette Barboff desvenda, passo a passo, os elementos ritualísticos que envolvem e explicam todo o processo.
Minuciosamente, a autora demonstra como os gestos, os modos de fazer, os nomes atribuídos e a envolvência comunitária sinalizam reminiscências cripto-judaicas entranhadas na prática tradicional de produção e consumo das alheiras.
Um olhar novo, surpreendente e persuasivo, que pode ser adquirido aqui, deixando umas quantas imagens para aquecer o estômago e o conhecimento.
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