Em 1892, nascia em Fortaleza, capital do Ceará, a Padaria Espiritual, uma agremiação fundada no coração da cidade, na famosa Praça do Ferreira, e cujos padeiros e forneiros, na verdade poetas e amantes da literatura nacional e mundial, foram os precursores das academias de letras no Brasil.
Tal iniciativa tinha um único e modesto propósito: despertar o interesse pelas letras na província.
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A Padaria Espiritual |
No final do século XIX, um grupo de notáveis cearenses deu origem à Padaria Espiritual, uma “Agremiação de Rapazes e Letras” idealizada num famoso quiosque situado na histórica Praça do Ferreira, centro de Fortaleza, o Café Java, de propriedade de Mané Coco, inaugurado na quinta-feira de 23 de junho de 1887, estando portanto, intimamente ligados à própria vida
da Padaria.
João Batista Perdigão de Oliveira traçou-lhe o perfil: "Estatura baixa, gordo, cheio de quartos, dentadura apodrecida, boca cheia de língua, rosto bexigoso ou com pregas de sol, imberbe, cabeleira espessa e oleosa, voz rouquenha, asmático, a deitar globulozinhos de cuspo, ao falar ... ''
O citado espaço era frequentado pelos responsáveis por aquela original e espirituosa proposta, os amigos António Sales e Álvaro Martins Temístocles Machado, de entre outros ilustres, todos participes da mais alta classe social fortalezense e que compartilhavam as características do bom-humor e da ousadia na escrita.
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Café Java |
O Grémio Literário, que tinha por influência grandes nomes da literatura nacional e mundial, publicava, a cada domingo, um jornal de oito páginas denominado “O Pão”, dentro do qual a arte escrita era irreverentemente despejada aos admiradores locais da literatura.
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O Pão da Padaria Espiritual |
A iniciativa era composta pela seguinte estrutura, baseada na de uma padaria real: o “Padeiro-mor” era o presidente, os “Forneiros” os secretários, o “Gaveta” era a denominação do tesoureiro, o “Investigador das Cousas e das Gentes” era a alcunha do bibliotecário e, por fim, os “Amassadores” eram os sócios. A sede do clube de literatura era chamado pelos frequentadores de “O Forno”.
Além dos “pães” de domingo, várias outras obras de reconhecida importância à literatura nacional tiveram como autores os “padeiros” espirituais. Exemplos dessas publicações são Phantos (1893) de Lopes Filho, Trovas do Norte (1895) de António Sales, Maria Rita (1897) de Rodolfo Teófilo, Marinhas (1897) de Antônio de Castro, dentre outras.
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